Como pregador do Evangelho de Jesus Cristo desejo fazer uma pequena análise da situação atual, acerca da manipulacao do apostolado em nossa época. Não é um estudo profundo sobre o tema, para isso há algumas recomendações de leitura ao final do texto, mas é necessário atentar para o estado preocupante em que se encontra a Igreja no século 21, e tentar desviar alguns do caminho do engano que levará a um abismo profundo de decepção, maldições infundadas, cadeias de comandos ditatoriais, de feridos em nome de Deus.
Em vinte séculos de Igreja nunca se viu um número tão grande de apóstolos como agora. O que aconteceu? Os irmãos do passado não tinham visão? Não conheciam a Bíblia? Os mestres do passado não estudavam a fundo as escrituras? Provavelmente eles não conheciam os escritos de Paulo, talvez Efésios 4:11 -“E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres,” não fizesse parte das traduções de então. Ou então I Coríntios 12:28 – “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.”
O certo é que na última década do século 21 a proliferação de apóstolos tornou-se alarmante e preocupante. Hoje, no Brasil, existem mais de 10.000 apóstolos, mais de 3.000 associações apostólicas, centenas de conselhos apostólicos e por ai afora. Essa é uma prerrogativa das igrejas neopentecostais, que nos últimos anos se multiplicaram além fronteiras, pois os Estados Unidos e o Brasil são celeiros de apóstatas travestidos de apóstolos que estão espalhando o falso evangelho aos quatro cantos da terra, enredando com seus enganos a inúmeros pastores que desejam a todo o custo o crescimento numérico e financeiro.
O que preocupa em relação aos apóstolos pós-modernos é ainda mais grave. Está ligado à nossa natureza, que cobiça o poder, que se encanta com títulos e que faz do sucesso uma filosofia ministerial. Tem acontecido uma corrida frenética nas igrejas para ver quem é o maior, quem está na vanguarda da revelação do Espírito Santo e quem ostenta a unção mais eficaz. Tanto que os que se afoitam ao título de apóstolo são os líderes de ministérios de grande visibilidade e que conseguem mobilizar grandes multidões. Possuem um perfil carismático, sabem lidar com massas e, infelizmente, são ricos.
A Bíblia declara em II Coríntios 11:13 – “Pois tais homens são falsos apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo.” Sim caro leitor, a maioria desses homens auto intitulados apóstolos ou mesmo os que são nomeados são falsos apóstolos, como diz a Escritura.
Ao observar o apostolicismo moderno procuro as características bíblicas exigidas para que alguém possa ser considerado um apóstolo.
QUAIS OS TRÊS REQUISITOS PARA SER CONSIDERADO APÓSTOLO?
(Marcos 3.13-19; Mateus 10.1-4; Lucas 6.12-16)
- Ter visto o Senhor
- Ter aprendido diretamente com Jesus
- Ser chamado por Jesus
Então porque Paulo é considerado apóstolo?
(Romanos 11.13)
• Ter visto (At 9.17; 1 Co 15.5-10; 1 Co 9.1)
• Ter aprendido (Gl 1.1-24; 1 Co 11.23-26; 2 Co 12.1-12)
• Ser Chamado (Gl 1.1; 1 Tm 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1
Pelas razões apresentadas acima, ninguém pode ser considerado apóstolo, porque não apresenta os requisitos mínimos exigidos pela Bíblia.
Definição de apóstolo:
Esta palavra significa mais do que ‘mensageiro’: a sua significado literal é a de ‘enviado’, dando a ideia de ser representada a pessoa que manda. o apóstolo é um enviado, um delegado, um embaixador (Dicionário Bíblico)
De acordo com a definição literal qualquer um pode ser apóstolo, mas desde que entenda o seu verdadeiro significado: “enviado“. Continuamos os Atos dos Apóstolos, assim sendo é preciso entender que apóstolo não é hierarquia, nem tão pouco um cargo, um título, é uma função, um serviço, que deve ser desenvolvido por aqueles chamados por Deus, sem ostentação exacerbada de títulos, assim como o pastor, o mestre, o evangelista, o profeta, para que os santos (irmãos) sejam aperfeiçoados, cresçam espiritualmente.
O apóstolo não comanda uma igreja, sua função é ir a determinado lugar pelo tempo que for necessário, pregar o evangelho e ao ganhar pessoas para Jesus Cristo ensinar a Palavra de Deus a esses, formando discípulos, desses discípulos estabelecer liderança, dessa liderança estabelecer pastores, uma vez que a Igreja está estabelecida o apóstolo segue para outra localidade desempenhando a mesma função, e quando for possível ele passa pelas igrejas estabelecidas a fim de verificar o seu crescimento e se for recebido com amor poderá ficar ali por pouco tempo, pois sua função deve ser continuada.
Apóstolo não é líder de denominação, não é cargo de autoridade eclesiástica, a quem os outros (profetas, pastores, mestres e evangelistas) devem se submeter. Todas as funções tem um papel importante a ser desempenhado na Igreja e, repito, essas funções não pertencem a hierarquia do apóstolo.
Essa confusão surge por causa da construção do sistema denominacional, em que o fundador de tal denominação precisa se perpetuar na cadeia de comando criando heresias e apostasias, não se importando em contradizer a Palavra de Deus e sem preocupar com os estragos provocados, desde que a sua autoridade fique intocada e ele possa estender a sua visão por outros lados sem perder o domínio.
Apóstolos foram os 12 e Paulo, mas nenhum outro foi ou é considerado apóstolo.
Vejamos o que registra a Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã:
O uso bíblico do termo “apóstolo” é quase inteiramente limitado ao NT, onde ocorre setenta e nove vezes; dez vezes nos evangelhos, vinte e oito em Atos, trinta e oito nas epístolas e três no Apocalipse. Nossa palavra em português é uma transliteração da palavra grega apostolos, que é derivada de apostellein, enviar. Embora várias palavras com o significado de enviar sejam usadas no NT, expressando idéias como despachar, soltar, ou mandar embora, apostellein enfatiza os elementos da comissão — a autoridade de quem envia e a responsabilidade diante deste. Portanto, a rigor, um apóstolo é alguém enviado numa missão específica, na qual age com plena autoridade em favor de quem o enviou, e que presta contas a este.
Jesus foi chamado de apóstolo em Hebreus 3.1. Ele falava os oráculos de Deus. Os doze discípulos mais próximos de Jesus também receberam esse título. Parece que o número de apóstolos era fixo, porque há um paralelismo com as doze tribos de Israel. Jesus se refere a apenas doze tronos na era vindoura (Mt 19.28; cf. Ap 21.14). Depois da queda de Judas, e para que se cumprisse uma profecia, ao que parece, a igreja sentiu-se obrigada, no primeiro capítulo de Atos, a preencher esse número. Mas, na história da igreja, não se tem conhecimento de esforços para selecionar novos apóstolos para suceder àqueles que morreram (At 12.2). Com o passar do tempo, as exigências para que alguém se qualificasse ao apostolado já não poderiam se cumprir:
At 2.21, 22 – É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição
Portanto, alguns dos melhores exegetas do Novo Testamento concordam que as listas ministeriais de 1 Coríntios 12 e Efésios 4 referem-se exclusivamente aos primeiros, e não a novos apóstolos.
Há, entretanto, a peculiaridade do apostolado de Paulo. Uma exceção que confirma a regra. Na defesa de seu apostolado em 1 Coríntios 15.9, ele afirma que foi testemunha da ressurreição (viu o Senhor na estrada de Damasco), mas reconhece que era um abortivo (nascido fora de tempo): “Porque sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus” (1 Co 15.10). O testemunho de mais de dois mil anos de história é que os apóstolos foram somente aqueles doze homens que andaram com Jesus e foram comissionados por Ele para serem as colunas da igreja, comunidade espiritual de Deus.
Para ajudar os leitores a compreender mais sobre o tema, quero sugerir as seguintes leituras:
Apóstolos – A verdade bíblica sobre o apostolado – Dr. Augustus N. Lopes – Editora Fiel
Chamado para Apóstolo – D. M. Lloyd Jones
Alerta aos “apóstolos”! – Andrew Strom
Apostolado no Brasil – Dr. Augustus N. Lopes
Os super apóstolos nos dias de Paulo – Pr. João A. de Souza Filho
Os novos apóstolos e seus apelos políticos – Pr. João A. de Souza Filho
Apóstolos e profetas da prosperidade – Pr. João A. de Souza Filho
Apóstolo Apostrofado – Pr. João A. de Souza Filho
O Exemplo dos Apóstolos – E. M. Bounds
“A pregação apostólica não se caracteriza por uma fala impecável, nem por floreados literários, nem por expressões inteligentes, mas opera através de demonstração do Espírito e de poder”. Arthur Wallis