Qual sua interpretação de Hebreus 10.25, especialmente numa época em que muita gente quer desistir de frequentar os cultos nas igrejas ou nos templos?
“Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia.”
Esta pergunta surgiu de uma conversa com um primo, estudioso da condição da igreja moderna, sobre a situação dessa mesma igreja (ou, como costumo dizer, a situação das denominações modernas), porque há pessoas sofrendo com igrejas por todos os lados e existem oportunistas abrindo denominações para auferir lucros, sem se importar com as pessoas, mas apenas com o dinheiro que essas pessoas podem lhes trazer. Podemos dizer que não passa de um movimento de distração criado por Satanás para afastar as pessoas do verdadeiro Evangelho. Jesus alertou para essas coisas em várias ocasiões (por exemplo: Mateus 7:21-23; Mateus 13:4-9, 18-23; Mateus 13:24-30, 36-43)
“Não abandonemos, como alguns estão fazendo, o costume de assistir às nossas reuniões. Pelo contrário, animemos uns aos outros e ainda mais agora que vocês veem que o dia está chegando” (Hb. 10.25 NTLH).
Hoje assistimos um novo fenômeno, o dos desigrejados, pessoas descontentes com o sistema, que resolveram servir a Deus em casa, e se reúnem sem liderança estabelecida, dão ofertas e dízimos a quem eles acham que faz alguma coisa séria, mas na realidade não querem compromisso, porque essa proliferação de denominações cria anomalias, e é o que vemos por todo lado e com isso as pessoas ficam enojadas desse sistema e acabam por se afastar.
João 17, que é considerado a oração da unidade, no versículo 21 diz que o mundo há de crer Nele quando formos um, e é exatamente o oposto disso que está acontecendo nessa proliferação de denominações, porque essas divisões tentam enfraquecer cada vez mais o corpo de Cristo, tirando a beleza e a eficácia do estar junto, em comunhão, no partir do pão, e até mesmo na formação de um exército, pois, pessoas isoladas não têm força e essa é a estratégia do diabo. A apostasia e as heresias estão enfraquecendo a necessidade de unidade e o que se vê nas igrejas são pessoas isoladas, cada um cuidando de si mesmo, e no outro lado pessoas saindo do “sistema” e se isolando em casa formando um grande número dos que se dizem “sem igrejas”.
Pesquisando sobre esse fenômeno na internet, encontrei essa frase num site destinado a propagar a ideia ou esse fenômeno:
“Desigrejados é se desvincular dos lugares apelidados de ‘igrejas’, é seguir a Cristo e não depender da igreja institucional, das instituições religiosas com placa de igrejas ou igrejolas ou igrejas evangélicas e católica, é sair para fora do sistema religioso, negando o cristianismo – ‘Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas”.
Em tese tudo isso é muito bonito, mas, na pratica, está se formando um exército de pessoas isoladas.
Essa ideia não é nova, bem antes do movimento de desigrejados modernos, na história da igreja, nós encontramos, por exemplo, os irmãos, grupos dentro da reforma protestante que queriam uma organização informal ou com quase nenhuma organização em suas comunidades e assim por diante.
Desigrejados. Esse termo é muito amplo e há diversos tipos.
Você pode chamar de desigrejado aquela pessoa que frequentou alguma igreja e teve uma decepção ou receou-se ou se frustrou com alguma coisa, algum problema pessoal e se afastou da igreja. Está desiludida com a igreja. Prefere ficar em casa, onde lê a Bíblia e ora. Tenta levar a vida cristã sozinha. Ela se alimenta do que ela ouve na internet, sermões, vídeos, pregações, mas não quer saber de frequentar uma igreja por causa da decepção que teve.
Muitas pessoas desse grupo não conseguem se rever em outra denominação, trabalharam tanto, deixaram tudo por amor a Jesus e ao Evangelho, abandonaram carreiras para servir a Deus, muitas vezes sacrificaram a família para atender a convocação de ir para determinada região ou pais, criam de todo o coração que servir a Deus naquela denominação era o certo a fazer. Mas o líder ou os lideres falharam, passaram a ser pessoas altivas, orgulhosas, ditatoriais, nunca reconhecem os erros e culpam sempre os outros. Poderia continuar a relatar muitos fatos semelhantes a esses e a dar muitos nomes de denominações em que isso acontece, mas o foco central é que essas denominações e esses lideres são responsáveis por muitos desigrejados “feridos em nome de Deus”.
O termo desigrejado, também é usado hoje por um movimento que conscientemente ataca a igreja como instituição, que diz que a igreja é uma instituição humana, que ela tem origem em Constantino, o imperador que legalizou o cristianismo como religião oficial no Império Romano. Que a igreja acabou virando quase que uma empresa, porque ela está presa a um templo, está presa a um CNPJ, ela tem regulamento, ela tem pessoal pago, ela pede o dízimo, ela vive de ofertas dos fiéis. E muitas críticas são feitas à igreja como instituição. E esses desigrejados se reúnem em casas, em grupos, em qualquer lugar, em qualquer situação e evitam a institucionalização desse grupo.
O que posso dizer sobre isso?
No momento em que as igrejas se institucionalizam e viram empresas, alguma coisa está errada. Mas, a comunidade de cristãos precisa de um mínimo de organização. Jesus mandou batizar, Jesus mandou discipular, Jesus ordenou que tivesse disciplina; caso o irmão pecasse e não se arrependesse deveria ser excluído. Jesus falou da liderança da igreja, o apóstolo Paulo constituía presbíteros e diáconos. Então, tudo isso implica um mínimo de estrutura para que as pessoas obedeçam as ordens do Senhor Jesus.
Viver sem igreja está errado. Tentar ser crente em casa, sozinho, está errado também. Criticar a igreja organizada, como se ela fosse a mãe de todos os males, está errado, é ingratidão e desconhecimento da história da igreja. O que devemos fazer é reconhecer a necessidade de estarmos juntos com nossos irmãos e obedecermos ao que Jesus mandou em termos de membresia. Edificar-nos mutuamente, termos nossos mestres que ensinam a palavra de Deus, contribuir para o funcionamento da comunidade e assim por diante, mas jamais deixar a igreja ou pensar, e dizer, que ela é desnecessária para a vida do cristão.
Alguém fez o seguinte comentário na internet:
“Complicado, o problema é que os desigrejados estão e não estão com a razão. Os cristãos da época de Jesus não se congregavam em templos porque era proibido. Mas agora o problema é que pelo menos a maioria das congregações viraram negócios e o que era para ser dons virou hierarquia humana para gerenciar o negócio. Ainda que existam os sinceros, a grande maioria só visa $. As igrejas da TV desacreditaram as demais igrejas e jogaram na cara o problema.”
Creio que o primeiro grupo de desigrejados são pessoas feridas em nome de Deus, e essas precisam de cura, de amparo, de ajuda, de reconciliação. Vejo essas pessoas como aquela ovelha que se ausentou das outras 99; era ovelha, mas, por qualquer motivo, ela se perdeu. O pastor foi atrás dessa ovelha, não a desprezou, não a humilhou, protegeu as 99 e saiu em busca daquela única ovelha desaparecida. Encontrou-a, tratou-a, trouxe de volta ao convívio com as outras. Trato desse assunto no artigo Noventa e Nove por Um (99×1) Princípios de Liderança publicado nesse site. É isso que, nós pastores, precisamos fazer com essas ovelhas, ir buscá-las e tratá-las. Não podemos deixá-las a mercê desses lobos mercenários travestidos de pastores que infestam as denominações modernas e que grandes estragos têm feito.
O crescimento desordenado de denominações evangélicas tem provocado um aumento de pessoas confusas, enganadas, iludidas, mas são ovelhas e por isso precisam de cuidados. Infelizmente esse crescimento desordenado faz surgir também o segundo tipo de desigrejados, e esses são problemáticos, exigem uma postura rígida dos verdadeiros pastores.
Da mesma forma que é exigido dos verdadeiros pastores a diferenciação entre o que é igreja verdadeira e o que é a igreja falsa (composta de lobos, mercenários, saqueadores, rebeldes) também é exigido a diferenciação entre os desigrejados que são feridos em nome de Deus e os desigrejados que são rebeldes, que não passam de agitadores que se misturam ao povo de Deus para causar separações, intrigas, discussões, confusões e divisões. Paulo já alertava a igreja dos Gálatas sobre aqueles falsos irmãos que vieram espiar a nossa liberdade em Cristo (Gálatas 2.4). Como já vimos, esse fenômeno não é novo, sempre houve e haverá os que vem causar confusão e provocar divisões.
Já podemos perceber que esse segundo grupo, apesar de não se identificar com qualquer denominação ou agir como tal, procura se agrupar ou promover ajuntamentos dos sem igrejas e sabemos, pela história, que logo esse movimento também se tornará uma denominação, à semelhança do que aconteceu com as comunidades cristãs da década de 70 do século XX.
Por outro lado, como pastores do rebanho de Cristo, se quisermos impedir o avanço desse fenômeno, ou mesmo trazer ao aprisco esses que estão feridos, precisamos dar mais atenção à oração e à Palavra, como faziam os primeiros apóstolos, e atender aos santos, fazendo com que não haja necessitados, levando a Igreja a entender qual o verdadeiro propósito do Evangelho e a viver de acordo com esse propósito. Como pregadores, precisamos, no mínimo, nos assemelharmos a Paulo e tentar praticar o que ele disse em 1 Coríntios 2.1-5, deixando assim de sermos pregadores tão teóricos, tão formuladores de passos disso e daquilo, que procuram convencer os ouvintes por técnicas persuasivas, com palavras eloquentes, ou até mesmo com técnicas psíquicas. Apesar da sabedoria e da capacidade de pensar serem necessárias no Evangelho, precisamos muito mais nos apoiar no poder de Deus.
Tenho feito algumas propostas acerca da Igreja, para que juntos possamos edificar a vida de Deus em nossos irmãos; outros pastores, como João Antônio de Souza Filho, pastor e mestre da Palavra, tem gasto a sua vida no apoio aos pastores e igrejas em todo o Brasil, viajando, pregando, escrevendo artigos e publicando livros, outros homens de Deus têm feito o mesmo, e a maioria são anônimos, não buscam holofotes e glória, não vivem ricamente, não são esbanjadores. Uma coisa temos em comum, queremos que a igreja verdadeira do Senhor Jesus seja edificada, preparada para a volta de Jesus Cristo.
A causa e efeito para o primeiro grupo de desigrejados podem e devem ser reparados, fazendo com que os nossos irmãos voltem ao convívio salutar e necessário entre si, impedindo que o “tição fique fora do fogo e venha ser apagado”.