Se podermos apontar uma função principal para o profeta, creio ser esta: trazer visão e fazer com que o povo de Deus seja cheio do Espírito Santo, conforme Atos 9:17 – “… Para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo”.
A igreja sem visão fica pobre do Espírito Santo, pois a carnalidade, o pecado, a iniquidade, impedem a ação do Espírito Santo. O profeta Oseias afirmou que “o povo de Deus foi destruído porque lhe faltou o conhecimento (visão)” – Oséias 4:6. O próprio profeta deve ser alguém de visão e nada pode impedir que ele veja.
Isaías já era profeta quando algo mudou sua vida, até então, ele nunca teve uma visão clara do Senhor, mas quando o impedimento acabou ele viu o Senhor: “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo” – Isaías 6:1 – Quando os impedimentos, as “escamas”, são removidos de nossa visão então acontece o milagre: – vemos o Senhor.
Definição do termo Profeta tanto no Hebraico quanto no Grego:
Hebraico: nabiy = porta-voz, orador
Grego: prophetes = intérprete de oráculos ou de outras coisas ocultas.
– Alguém que, movido pelo Espírito de Deus e, por isso, seu instrumento ou porta-voz, solenemente declara aos homens o que recebeu por inspiração, especialmente aquilo que concerne a eventos futuros, e em particular tudo o que se relaciona com a causa e reino de Deus e a salvação humana.
– Homens cheios do Espírito de Deus, que pela sua autoridade e comando em palavras de relevância defendem a causa de Deus e estimulam a salvação dos homens
– Relacionado aos profetas que apareceram nos tempos apostólicos entre cristãos, associados com os apóstolos e que discerniram e fizeram o melhor pela causa cristã e previram determinados eventos futuros. (Atos 11.27). Os quais nas assembleias religiosas dos cristãos foram movidos pelo Santo Espírito para falar, tendo capacidade e autoridade para instruir, confortar, encorajar, repreender, sentenciar e motivar seus ouvintes.
O profeta é alguém que fala no lugar de Deus, enviado por Deus, fala debaixo da influência do Espírito Santo, é alguém que não fala por si mesmo, nunca traz sua própria visão, suas próprias ideias, mas fala sempre o que está no coração de Deus. O profeta não é um super-homem, não é alguém que vive num “plano superior”, é alguém comum como nós, a exemplo de Elias: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, …” – Tiago 5:17, porém ele é instituído por Deus, nomeado por Deus.
A vida do profeta não é lógica, muitas vezes ele tem que fazer coisas que fogem ao normal, ou, aquilo que é considerado normal pela maioria das pessoas. O profeta por ser, muitas vezes, diferente e por agir diferentemente das outras pessoas “normais”, ele é mal compreendido, mal interpretado, não é bem quisto. A função de profeta é muito dolorida, cheia de embates, lutas sendo travadas, tendo visões do que realmente está acontecendo com a igreja, em detrimento daquilo que os outros veem e celebram.
Por vezes o profeta vê e não pode falar, outras vê e é obrigado a falar. Na maioria das vezes o profeta está em risco, porque pode não ser compreendido. O profeta de Deus aponta o erro, mostra a verdade dos fatos, ainda que isso lhe custe a cabeça. O falso profeta vai falar o que os outros querem ouvir, o profeta de Deus vai falar o que os outros precisam ouvir. Na maioria das vezes por causa daquilo que fala não é bem recebido nos meios em que precisa estar. O profeta vê o que ninguém vê e fala o que não querem ouvir.
Por executar o seu ministério, trazer a verdade à tona, mostrar o real estado de vida da igreja, até mesmo da nação, por enxergar o que a maioria das pessoas não veem ou fazem questão de esconder: o profeta sofre, geme, chora, é abandonado, incompreendido, perseguido, humilhado, ameaçado, posto de lado. O profeta não tem direitos, sua função é obedecer e falar o “Assim diz o Senhor” e por isso, muitas vezes, o profeta sofre perdas irreparáveis.
Vejamos alguns exemplos, dos muitos mencionados na Bíblia, acerca do que os profetas sofreram, foram submetidos, por comunicar os avisos de Deus: I Reis 18:17, 19:2 | Jeremias 18:18; 20:2,7-9; 26:8-9; 38:6 | Isaías 20:3 | Ezequiel 4:4-12; 24:15 | Oséias 1:2 | Amós 7:10 | João Batista: Mateus 3:4; 14:8-11
O verdadeiro e o falso profeta:
– O profeta verdadeiro comunica o que está no coração de Deus, não busca riquezas, nem favor, nem tem sua vida por preciosa. Exemplos de Verdadeiros Profetas: Aías – I Reis 14:2-18 | Elias – I Reis 17,18,19 | Micaías – I Reis 22:7-35 | Eliseu – II Rs. 3… | Ezequiel – Ezequiel 2:5
As promessas de Deus por ouvirmos os profetas: Amós 3:7; II Crônicas 20:20
– O falso profeta fala o que o homem deseja ouvir. Pertence à classe de Balaão que amou o prêmio da injustiça. Profetiza motivado por ganhos pessoais, mesmo quando não recebe instruções de Deus, ama a bajulação, ama os holofotes. Mas é perigoso ouvi-lo (veja I Reis 13:1-32). Jesus nos alertou em Mateus 7:15 – “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.” – O perigo de ouvir um profeta que não foi enviado pelo Senhor: I Reis 13:1-32. Exemplos de Falsos Profetas: Deuteronômio 13:1-5; 18:20-22 | Isaías 9:14-16; 28:7-8 | Jeremias 23:9-18; 28:5-17
A. W. Tozer faz o seguinte comentário, que para mim retrata fielmente o Profeta:[i]
Os grandes complexos industriais mantêm em seu quadro de funcionários alguns operários que prestam serviço apenas quando ocorre uma falha em algum setor da fábrica. Assim, se uma máquina apresenta algum defeito, eles são convocados, e comparecem ao local para identificar o problema e solucioná-lo, e tudo volta a funcionar a contento.
Esses homens não se preocupam com sistemas que estão operando bem. Especializam-se em localizar e corrigir defeitos.
No reino de Deus ocorre algo semelhante. Deus também sempre tem de prontidão seus especialistas, cuja principal função é cuidar das falhas morais, ou melhor dizendo, do declínio espiritual de uma nação ou igreja. Exemplos desse tipo de indivíduo foram Elias, Jeremias, Malaquias, e outros iguais a eles que, em momentos críticos da humanidade, surgiram no cenário da História para repreender, condenar ou exortar o povo de Deus em nome dele e da justiça.
Quando o povo de Israel ou a igreja se achavam em condições normais, esses sacerdotes, pastores ou mestres trabalhavam silenciosamente, passando quase despercebidos. Mas assim que se desviavam um pouco das veredas da verdade, esse especialista se levantava para intervir. Parece que possuía um instinto especial, capaz de detectar problemas, o que fazia com que logo corresse ao auxílio do Senhor e do seu povo.
Geralmente, esse tipo de pessoa tinha a tendência de ser radical, de ter atitudes drásticas, e ser até certo ponto violento. E os curiosos que se pusessem a observar seu trabalho provavelmente o tachariam de extremista, fanático e negativista. E num certo sentido não deixavam de ter razão. Ele era um homem de um propósito só, de caráter severo, destemido, e esses eram justamente os atributos que as circunstâncias exigiam. A uns ele chocava; a outros assustava; e a outros ainda, afugentava. Mas o profeta sabia, sem sombra de dúvida, quem o havia chamado para executar aquele trabalho, e qual a tarefa a ser cumprida. Seu ministério tinha um caráter de emergência, e isso fazia dele um homem diferente, bem distinto dos demais.
O débito que o povo de Deus tem para com esses servos dele é tão vultoso que nunca poderá ser pago. E o curioso é que eles raramente pensam em saldá-lo enquanto esses indivíduos estão vivos. Em compensação, a geração seguinte o exalta, escreve livros sobre seus feitos, como se, instintivamente e meio sem jeito, quisesse desincumbir-se de uma obrigação que a geração anterior praticamente ignorara.
O profeta é um especialista espiritual, esse homem enviado por Deus, não para realizar um ministério na obra regular da igreja, mas para fazer frente aos profetas de Baal, desafiando-os em seu próprio território, para envergonhar os negligentes sacerdotes que oficiam no altar, para enfrentar os falsos profetas, e advertir o povo que está sendo desviado do caminho certo por influência deles.
Um homem como esse às vezes não é companhia muito apreciada. O evangelista profissional que sai correndo do culto assim que ele se encerra, e vai para um restaurante de luxo contar piadinhas com os amigos, talvez o considere uma presença embaraçosa. Pois ele não é desses que conseguem silenciar a voz do Espírito Santo em seu coração como quem fecha uma torneira. Ele insiste em ser um crente fiel o tempo todo, onde quer que esteja. E nisso também se distingue de muita gente.
Somente o especialista pode apontar o que está errado na igreja moderna. E o que há de errado com a igreja moderna?
– Basicamente a sua liderança.
Principalmente as lideranças das celebradas megagrejas, que subjuga os seus staffs a busca de resultados. Essa megaliderança (superapostolos, superpastores, superprofetas) cria um ambiente tóxico a volta de si, pois, exige resultados a semelhança dos grandes empresários do mundo corporativo. Mas, o problema se repete nas menores, pois no afã de crescer são meras imitadoras dos super, dos mega. Quando não há unção se usa a imitação. As estáticas comprovam isso, de acordo com o site PastorBurnout.com e o New York Times:
Em 1 de agosto de 2010 a www.PastorBurnout.com como também New York Times revelou o seguinte: “Os membros do clero agora sofrem de obesidade, hipertensão e depressão a taxas superiores à maioria dos americanos. Na última década, o uso de antidepressivos aumentou, enquanto sua expectativa de vida caiu. Muitos poderiam mudar de emprego se pudessem”. Vejam os dados:
- 13% dos pastores ativos são divorciados.
- 23% foram demitidos ou pressionados a renunciar pelo menos uma vez em suas carreiras.
- 25% não sabem o que fazer quando tiverem problemas na família ou um conflito ou problema pessoal.
- 25% das esposas dos pastores veem o horário de trabalho do marido como fonte de conflito.
- 33% sentiram-se queimados nos primeiros cinco anos de ministério.
- 33% dizem que estar no ministério é um risco absoluto para a família.
- 40% dos pastores e 47% dos cônjuges sofrem de burnout, horários frenéticos e/ou expectativas pouco realistas.
- 45% das esposas dos pastores dizem que o maior perigo para eles e sua família é o desgaste físico, emocional, mental e espiritual.
- 45% dos pastores dizem que experimentaram depressão ou burnout ao ponto de precisavam tirar uma licença do ministério.
- 50% sentem-se incapazes de atender às necessidades do trabalho.
- 52% dos pastores dizem que eles e seus cônjuges acreditam que estar no ministério pastoral é perigoso para o bem-estar e a saúde de sua família.
- 56% das esposas dos pastores dizem que não têm amigos íntimos.
- 57% deixariam o pastorado se tivessem algum outro lugar para ir ou alguma outra vocação que pudessem fazer.
- 70% não têm amigos próximos.
- 75% relatam estresse severo causando angústia, preocupação, perplexidade, raiva, depressão, medo e alienação.
- 80% dos pastores afirmam ter tempo insuficiente com o cônjuge.
- 80% acreditam que o ministério pastoral afeta negativamente suas famílias.
- 90% se sentem desqualificados ou mal preparados para o ministério.
- 90% trabalham mais de 50 horas por semana.
- 94% sentem-se sob pressão para ter uma família perfeita.
- 500 pastores deixam seus ministérios todos os meses devido ao esgotamento, conflito ou falha moral.
Podemos afirmar que a situação é catastrófica, como prova podemos destacar alguns títulos de artigos que encontramos em diversos sites especializados:
– Jovens estão abandonando a Igreja por falta de “identificação” – Sensação que Deus ‘não está’ na igreja é apontada como um dos motivos para afastamento([ii])
– Suicídio e o gemido dos pastores – Setembro Amarelo, mês da consciência contra o suicídio. E os pastores não estão imunes!([iii])
– A Nova Moda das Igrejas: Ambientes Escuros e Negros! – Ultimamente as igrejas que me convidam para pregar pintaram o palco – que se chamava púlpito alguns anos atrás – de preto, com o argumento de que melhora as gravações de vídeos e as transmissões dos cultos ao vivo pela Internet.([iv])
Ao ver as estatísticas relacionadas, anteriormente, o profeta confirma o porquê de sua aflição e a urgência de anunciar a Palavra de Deus, de trazer a igreja de volta a visão celestial, pois há em marcha uma forte decadência moral e principalmente espiritual. Não importa a sua moral, a sua conduta, o seu sucesso, etc., se você não estiver comprometido com o Evangelho da cruz de Cristo, com o sangue derramado na cruz por você; se você não estiver comprometido com a renúncia do seu eu, com a renúncia do velho homem, com a renúncia do pecado na sua vida, cuidado! Pois você pode estar comprometido com um evangelho cujo centro é você, os seus desejos, as suas vontades, e segundo a Palavra de Deus este evangelho é amaldiçoado (anátema).
Antigamente pregávamos o evangelho aos nãos salvos (incrédulos) para que viessem ao conhecimento da verdade e abandonassem o pecado, hoje precisamos pregar aos “salvos” e aos “servos de Deus”. O profeta tem a obrigação de avisar essas autoridades eclesiásticas de que eles estão caminhando a passos largos para o inferno e levando junto consigo uma multidão de pessoas.
Imaginemos uma grande vinha, com seus grandes parreirais, com folhas muito verdes e muitos frutos, e que se esparrama por vários quilômetros. Porém a sustentação está comprometida, seus galhos inferiores estão muito finos, seus caules estão corroídos. As raposinhas, os vermes, as ervas daninhas, estão destruindo toda a sustentação desta vinha e apesar de sua aparência frondosa não há sustentação. Quando o grande vendaval vier, ela será arruinada e será grande a sua destruição. É necessário fazer reparos urgentes, antes que seja tarde. Toda a infraestrutura deve ser refeita e muito possivelmente será necessário fazer alguns enxertos nos caules para que haja novamente sustentação. Cantares 2:15 diz: Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor.”
Concordo plenamente com Leonard Ravenhill quando afirmou:
Irmãos, temos só uma missão: salvar almas, e, no entanto, elas estão perecendo. Pensemos nisso! Existem milhões, centenas de milhões, talvez milhares de milhões de almas eternas que precisam de Cristo. E sem a vida eterna elas irão perecer. Ah, que vergonha para nós, que horror, que tragédia! “Cristo não desejava que ninguém se perdesse”. Irmãos pregadores, hoje há milhões e milhões de pessoas seguindo para o fogo do inferno, porque nós perdemos o fogo do Espírito!
Esta geração de pregadores é responsável pela atual geração de pecadores. Diante das portas de nossas igrejas passam todos os dias milhares de pessoas que não foram salvas porque ninguém lhes pregou, e ninguém lhes pregou porque ninguém as amou. Dou graças a Deus pelo grande trabalho que é realizado nos países estrangeiros. Contudo é muito estranho que aparentemente tenhamos maior preocupação por aqueles que se encontram do outro lado do mundo, do que com os que moram do outro lado da rua. Apesar de todas as nossas campanhas e nosso evangelismo de massas, o número dos que são salvos se limita a centenas, enquanto que, se cair uma bomba atômica por aqui, irão aos milhares para o inferno.
A. W. Tozer também fez a seguinte chamada de atenção:
“Enquanto a liderança espiritual não voltar a ser ocupada por homens que preferem a obscuridade, continuaremos a presenciar uma constante deterioração da qualidade do cristianismo popular, e possivelmente chegaremos ao ponto em que o Espírito Santo, entristecido, se retirará, como a glória de Deus se apartou do templo”.
A função do profeta: impedir que isso ocorra!
[i] Por que tarda o pleno avivamento – Leonard Ravenhill – Ed. Betânia