O que é Igreja?
Igreja é um organismo vivo composto por todos aqueles que reconhecem e têm Jesus Cristo como único Senhor e Salvador de sua vida, todos que têm um só Senhor, uma só fé, um só batismo, e que creem num só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, por todos e em todos. Biblicamente, em cada localidade, a Igreja é formada por uma organização e não várias, conforme comprovam os diversos textos desde Atos à Apocalipse. Havendo necessidade de enviar uma carta, essa ia para a Igreja de tal cidade, não havia divisões.
Muitos fazem confusão com esta questão da organização, já que a Igreja pode formar uma entidade jurídica para tornar legal, junto às autoridades de um país, as diversas atividades exercidas por ela. Definição de organização: ato ou efeito de organizar(se); composição, estrutura regular das partes que constituem um ser vivo. Organização é a forma como se dispõe um sistema para atingir os resultados pretendidos. Normalmente é formado por uma, duas ou mais pessoas que executam funções de modo controlado e coordenado com a missão de atingir um objetivo em comum com eficácia.
Em algum momento da história da Igreja começaram as discórdias, desavenças, divergências de opiniões e interpretações dando origem as divisões, formando assim as inúmeras denominações. Na realidade, criaram um meio para que cada líder possa impor sua visão, seu modelo, seus desejos, para um pequeno ou grande grupo, uma forma de mandar e outros obedecerem. Principalmente nos modelos neopentecostais essa forma de liderança impositiva fica muito evidente, em que o auto nomeado apóstolo ou bispo afirma que é um líder e não precisa prestar contas à ninguém dos seus atos ou decisões. Evidentemente que esse modelo não é bíblico, pois não existe líder que não precisa prestar contas de seus atos. Porém nos meios pentecostais também existe os semideuses que se perpetuam na liderança e não há alternâncias, permanecendo no comando por décadas uma pessoa caquética e antibíblica.
As divisões originaram as diversas organizações numa mesma localidade e, por conseguinte, o surgimento de tantos apóstolos, profetas, pastores, mestres e evangelistas, tantos títulos eclesiásticos diferenciados, bem como de modelos de lideranças, de gestões, de diversidades de estilos, de diversidades de princípios e diversidades de pensamentos. Apóstolo passou a ser o líder máximo de denominação, quando, na verdade, esse ministério não é de liderança.
Pastor Ubirajara Crespo escreveu recentemente um pequeno artigo com o título: Igreja com logotipo:
“A Igreja de Cristo foi fundada pelo Espírito Santo, no Pentecostes. Só existe uma Igreja espalhada por todos os lugares do planeta. O que fazemos é escolher novos lugares onde esta mesma Igreja se reúne. Pode ser em um prédio, casa de família, praça, caverna, barraca, loja, hotel, presídio, escola, etc.
Não temos autoridade para iniciar uma nova Igreja, mas para expandir aquela que já existe. O nome da organização criada para expandir o Corpo, pode ser exibido em placas, camisas, logotipos, cartazes, listas telefônicas e sites de busca. O que não significa, necessariamente, que nos lugares indicados, por estas placas, se reúna uma Igreja Autêntica. Sua autenticidade não é reconhecida em cartório. A única marca da Igreja precisa ser gravada em nossos corações. É Cristo em nós e não em prédios, placas e lugares. Cristo em nós transforma um grupo em um pedaço do Corpo de Cristo. Procure Cristo no coração de um ajuntamento de pessoas e você estará procurando a Igreja dele.”
Nem toda denominação é Igreja e, infelizmente, a maioria não é, aliás muitas seitas surgiram e apesar de terem algumas semelhanças com ensinamentos da Igreja, na realidade, elas pregam o outro Jesus, o outro espirito e o outro evangelho (II Coríntios 11:4)
D. M. Lloyd Jones em seu livro “Avivamento” descreve como ocorre o crescimento dessas falsas igrejas, ou falsas religiões, ou ainda seitas:
Sabemos que é psicologicamente possível fazer uma pessoa tomar uma decisão, ou persuadila a fazer quase qualquer coisa que queiramos. As seitas fazem isso, as religiões falsas fazem isso. Razão porque estão florescendo tanto hoje em dia. Novos movimentos religiosos que estão longe da ortodoxia obtêm resultados e estão crescendo. Estamos familiarizados com eles todos quantos batem à nossa porta. Estes movimentos estão sendo bem sucedidos, têm reuniões em massa e grande número de decisões. Sabemos que tais coisas podem ser alcançadas através de pressão mental. Portanto, o fato de que um homem decide ser religioso e mudar sua vida de certas formas, não é prova que ele é um cristão. O que nos faz cristãos? A obra da regeneração; o Espírito Santo de Deus operando em nós, nas profundezas da nossa personalidade, e colocando ali um novo princípio de vida, algo absolutamente novo, de forma que resulta num “novo homem”.
Há uma grande diferença entre crescimento e inchaço. O que ocorre com muitas denominações não é crescimento, mas inchaço. A prova? A situação do povo. Denominações inchadas mostram salas cheias, muitos equipamentos e estruturas. O povo? Sofrendo espiritual, emocional e fisicamente! Denominações inchadas precisam manter o povo ativo: shows, muitos cultos, eventos especiais, congressos, convenções, etc. Unção? – Não. Fé? Diz que tem. Fidelidade, Integridade? Esquecidos. Temor a Deus? Temor? Deus? Amor? O que é?
O crescimento acontece por mudança de vida. O inchaço acontece por marketing, modismo e religiosidade e por persuasão psicológica. Repito o que afirmou D. M. Lloyd Jones: O que nos faz cristãos? A obra da regeneração; o Espírito Santo de Deus operando em nós, nas profundezas da nossa personalidade, e colocando ali um novo princípio de vida, algo absolutamente novo, de forma que resulta num “novo homem”.
Hoje o Evangelho precisa ser anunciado a todos: aos não salvos, salvos e aos servos de Deus. É um trabalho ininterrupto. “AO QUE VENCER!”. É preciso levar a muitos a obra da regeneração. A Igreja precisa voltar ao básico, ao princípio.
Quando examinamos a Igreja Primitiva, vemos que em poucos anos evangelizaram todo o mundo conhecido da época. E nós? Estamos falhando no básico.
Infelizmente o Evangelho se tornou em algo muito lucrativo para certas denominações, e seus líderes transformaram em conglomerados empresariais. Pesquisando na internet encontrei uma descrição de um grupo religioso famoso, sim, grupo religioso, como as empresas que reúnem diversas organizações no Grupo Tal, ou Grupo Qual, vejamos: “Grupo Tal é constituído por fundações e organismos especializados numa variedade de atividades religiosas e caritativas, bem como organizações de índole empresarial que dão suporte às atividades do Grupo. O Grupo é construído por diversas áreas de apoio, tais como: construção civil, arquitetura, engenharia eletrotécnica, aviação, gráfica e editora.” Pois bem, aquilo que começou com uma chamada de Deus para alguém, cresceu, reuniu muitas outras pessoas, e a determinado tempo o líder, aquele mesmo que iniciou a obra por chamada de Deus, cresceu no orgulho e na vaidade e transformou uma chamada num rentável negócio, lucrativo, porém, apenas para ele, pois todos os colaboradores estão como empregados, com contratos elaborados por juristas renomados e que punem severamente qualquer um que ousar ir contra o semideus apostólico. A denominação deu origem a empresas e o pastor, se autodenominou apostolo vitalício e CEO onipotente e não corrigível. É preciso ter cuidado com alguém que se líder e por isso não aceita correção, porque não passa de um cego guiando outros cegos ao abismo. Alguém que não reconhece seus erros não merece ser líder.
A Igreja é comparada a um curral de ovelhas, pastor vem dessa ideia – alguém que cuida de ovelhas. Jesus declarou que as ovelhas conhecem e ouvem a voz do seu pastor e elas o seguem, vindo o estranho elas não seguirão. Ovelhas fornecem leite, queijo, lã; os melhores são aqueles produzidos em pequenas propriedades, quase que artesanal, são mais caros inclusive; os industriais tem consumidores, mas não são caros e são feitos em grandes quantidades. Pois bem, como um grupo religioso (produção industrial de pastores e ovelhas) pode ter alguma qualidade?
Conta-se a história de um rei que tinha a intenção de visitar todo o seu reino, aldeia por aldeia, cidade por cidade. Um dos administradores de uma dessas cidades era muito corrupto e não aplicava o dinheiro enviado nas melhorias e por isso as ruas eram esburacadas e lamacentas. Esse administrador foi comunicado que o rei iria fazer uma visita de vistoria para saber se os recursos estavam bem aplicados. Logico que o homem ficou aflito e o rei iria descobrir que tinha roubado todo o dinheiro. Como a cidade era produtora de leite, o administrador deu uma ordem para que a população derramasse leite nas ruas no dia da visita, assim o rei iria ver tudo branquinho e sairia de lá satisfeito. Porem a população era muito explorada e estava cansada disso, logo cada morador pensou da mesma forma, o meu vizinho derramara leite e eu vou derramar agua, agua com leite se mistura e tudo fica branco. Logo a cidade inteira ficou um grande lamaçal e a carruagem real ficou encalhada.
Assim é quando esses CEO’s apostólicos vão visitar as suas filiais, os gestores locais ou gerentes (bispos) escondem os problemas e passam uma imagem de que tudo vai bem, quando na realidade existem situações terríveis não resolvidas de toda a sorte, mas como o dinheiro é o que importa e há sempre lucro o resto não é importante.
As Denominações S/A funcionam como os grandes conglomerados empresarias, e como tal pressionam muito os seus gerentes para que tenham resultados, e para isso dispõem de planilhas e gráficos atualizados constantemente, qualquer gerente que não apresente resultado satisfatório é rebaixado ou enviado para outra filial em área mais difícil ou problemática como forma de punição. Lembrando que os gerentes das Denominações S/A, via de regra, não recebem participações nos lucros, com raras exceções.
Essa pressão exacerbada gera meros funcionários, não geram pastores ou bispos que cuidam das ovelhas. Essa pressão por resultados gera medo, estresse, ansiedade, depressão, baixa autoestima, crise no relacionamento familiar, divórcios, adultérios, roubos, e tantos outros problemas. Geram pessoas que estão pastores mas não são pastores. E tal e qual as grandes empresas os apóstolos querem resultados e muitos resultados.
Outra característica das Denominações S/A é o quanto gastam com programas de televisão e rádio, há uma busca incessante por espaços caríssimos e isso justifica os pedidos desenfreados por ofertas, com isso surgem os carnes, as campanhas, os votos, etc. Há uma pesquisa que apenas 1% dos convertidos foram através da televisão, em comparação é um dinheiro mal gasto, mas para o ego do apostolo/bispo/missionário é massageador ver o seu rosto na tela 24 horas por dia. Alguém dirá que vale a pena por apenas 1 pecador que se arrepende, esse investimento é tirado de áreas essenciais e se bem aplicado poderemos ter muito mais pessoas arrependidas, e Jesus Cristo nos comissionou a ir e fazer discípulos e não apenas arrependidos.
As Denominações S/A não são Igreja, apesar de haver alguma semelhança, afinal de contas, cantam, pregam, oram, tem estrutura como tal, imitam bem, usam bem as palavras e as expressões típicas, mas nada tem a ver com Igreja.
O Livro de Atos nos apresenta o conceito de verdadeira Igreja: (Atos 2:42-47, 4:31)
- Da multidão dos que creram era um o coração e a alma
- Perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
- Em cada alma havia temor;
- Muitos prodígios e sinais eram feitos por meio dos apóstolos.
- Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.
- Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
- Diariamente perseveravam unânimes no templo,
- Partiam pão de casa em casa
- Tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração,
- Louvavam a Deus
- Contavam com a simpatia de todo o povo.
- Enquanto isso, o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos.
- Com ousadia anunciavam a Palavra de Deus
- Todos eram cheios do Espirito Santo
Essa é a Igreja que eu quero participar e ajudar a pastorear, não quero fazer parte de qualquer Denominação S/A, pois não quero ser participante da deformação de pessoas como os fariseus faziam em seu tempo, os quais foram alertados por Jesus: “- Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês atravessam os mares e viajam por todas as terras a fim de procurar converter uma pessoa para a sua religião. E, quando conseguem, tornam essa pessoa duas vezes mais merecedora do inferno do que vocês mesmos.” Mateus 23:15
Como já escrevi noutro texto, anteriormente: Em conversa com muitas pessoas, em várias partes do mundo, cheguei à conclusão de que tenho sentido falta da Igreja. Com certeza não é o prédio em que podemos nos reunir. Então qual Igreja?
- A Igreja que cura
- A Igreja que salva
- A Igreja que trata
- A Igreja que ama
- A Igreja que cuida
- A Igreja que louva
- A Igreja que adora em espírito e em verdade
- A Igreja que não julga segundo as aparências
- A Igreja que supre as necessidades
- A Igreja que supre as carências
- A Igreja que nos trata como ovelhas
- A Igreja que nos ouve
- A Igreja que nos faz querer a comunhão diária com Deus a qualquer custo
- A Igreja que nos incentiva a ler a Palavra
- A Igreja que nos incentiva a desenvolver os dons
- A Igreja que nos treina e nos chama para a obra do ministério
- A Igreja que parte as paredes e deseja alargar as suas tendas
- A Igreja que enriquece os seus membros com a verdadeira riqueza
- A Igreja que nos faz triunfar em Cristo
- A Igreja que nos ensina a amar
- A Igreja que incentiva a comunhão entre os irmãos
- A Igreja que nos transforma em intercessores
- A Igreja que vai atrás dos feridos, desanimados, tristes, caídos
- A Igreja que cura as famílias
- A Igreja que trata os casamentos, que não incentiva o divórcio
- A Igreja que crê que tudo é possível
- A Igreja que…
Utopia? Sonho? Demagogia? Impossível? Eu creio que isto e muito mais pode ser realidade, só depende de nós, pois Deus quer restaurarmos e nos fazer tão poderosos quanto a Igreja primitiva! Creio que o Espírito do Senhor está perguntando hoje: quantos estão disponíveis para tornar realidade esta Igreja?